O Enterro
Ontem, fui ao enterro do meu querido amigo e grande incentivador, o poeta Cassiano Nunes. Aconteceu naquele cemitério uma coisa curiosa, dessas que certamente o próprio Cassiano acharia engraçada, além de todos aqueles discursos recheados de adjetivos, um envolvendo o outro como uma macarronada. O semblante de Cassiano esboçava um leve sorriso. Após a cerimônia, caminhava para a saída do cemitério, conversando com dois amigos, quando vi um carro oficial chegar com uma autoridade do governo. A mesma desceu do carro e cumprimentou outras pessoas que também retornavam. Segurava um papel nas mãos, provavelmente um discurso feito às pressas. Certos atrasos são irreversíveis, não é mesmo... A morte não espera ninguém, nem mesmo uma autoridade governamental. Aquele carro oficial, parecido com um carro de funerária, também trazia algo fúnebre àquele cemitério: Um discurso, um cargo, um paletó, uma lábia, uma representação, a autoridade-chefe onipresente, uma dissimulação e até uma desculpa qualquer pelo atraso. Quando vi aquela autoridade perdida no meio dos túmulos sem saber mais a quem enterrar, me lembrei de um verso de Mario Quintana, poeta com quem certamente agora Cassiano deve estar dando boas risadas: Há criaturas que não vivem, apenas estão fazendo hora para morrer...
Saudades de Quintana, saudades de Cassiano.
Adeilton Lima
Essa não toca no rádio
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